18 de março de 2012

Conversas sobre livros
(Uma iniciativa da biblioteca escolar)

«A Minha Herança», de Barak Obama



Para esta “ Conversa sobre Livros”, escolhi uma autobiografia; permitam-me confessar desde já o meu preconceito em relação a este género literário, por me questionar sempre sobre se a realidade apresentada não é, na verdade, uma realidade ficcionada; mas, preconceito à parte, esta leitura deixou-me a pensar que o ser humano - homem ou mulher – é o resultado de percurso que vai percorrendo e da sabedoria que vai acumulando ao longo desse percurso.
O autor e sujeito deste
longo texto é uma pessoa que todos conhecemos, ou pelo menos de quem todos nós ouvimos frequentemente falar e foi escrito antes de ter atingido a notoriedade que hoje tem; para mim este é um facto importante porque permitiu conhecer o homem antes do Presidente; falo de “A Minha Herança”, a autobiografia do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.
Ao longo da sua narrativa, o autor vai-nos falando das pessoas e dos factos da sua vida e das emoções que originaram e envolveram esses factos; criança e adolescente muito solitário, colocado entre duas culturas, a negra e a branca, sem saber verdadeiramente a qual pertencia, reconhecendo a supremacia da branca, e pretendendo criar “o novo preto americano”, poderia ter sido mais um dos adolescentes que se vão perdendo enredados pelo álcool e pelas drogas; nasceu em 1961, filho de mãe norte americana, branca e pai queniano, preto, no Havai, para onde os avós maternos se mudaram depois da segunda guerra mundial e foi criado pelos avós e pela mãe que lhe incutiu os valores de honestidade, justiça, sinceridade, pensamento independente que o ajudaram a vencer os seus medos e a reencontrar-se no puzzle em que se sentiu enredado; afastado do pai que regressara ao seu país de origem, aos três anos, e com quem teve um contacto esporádico aos 10, tinha dele uma imagem mítica através das histórias que lhe contavam; muito pequeno foi para a Indonésia, que considera um “país pobre, sub-desenvolvido e completamente estranho”, na sequência do segundo casamento da mãe; aí, começou a reparar que “o Pai natal era branco e que o preto da Missão impossível ficava sempre debaixo da terra”. Regressou ao Havai quando a mãe, que considerava a educação uma prioridade, decidiu “que estava na altura de frequentar uma escola americana”.Terminado o liceu decidiu-se pela universidade de Los Angeles, mudando-se depois para a universidade de Columbia, em New York, onde se iniciou o “seu reencontro, ou o seu deixar de se importar”; terminado o seu curso, levado pela “importância de mobilizar os pobres e retribuir à comunidade”, decidiu trabalhar como animador social e seguiu para Chicago para trabalhar num “movimento de organização” ligado a uma igreja que procurava melhorar “as condições de vida da vizinhança, afligida pelo crime e pelo elevado desemprego”; mais tarde candidatou-se à universidade de Havard, para o curso de direito, convencido de que “tinha coisas a aprender na faculdade de direito que poderia levar para onde era necessário”
Numa vida muito intensa, esteve em contacto com a dor, o medo e o sofrimento resultante de abandono, do poder, do ódio, do desinteresse, da falta de dinheiro, mas também foi tocado pelo amor existente entre aqueles com quem convivia e pelo amor que os mesmos lhe dedicaram.
O espaço, elemento importante de toda a narrativa, é aqui muito diversificado; perpassam perante nós espaços geográficos, sociais e culturais sobretudo da Indonésia, mas também dos Estados Unidos e do Quénia, que nos permitem conhecer um pouco os costumes, a religião, a culinária, o funcionamento das instituições, a vida estudantil , das cidades e países por onde passou.
Boas leituras...




Maria Alice Rocha

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