2 de fevereiro de 2012

Conversas sobre livros




O Império dos Pardais, João Paulo Oliveira e Costa
Romance



Comecemos com uma pequenina nota explicativa sobre algo que costuma suscitar confusão: romance. Romance é um género narrativo, a par da novela e do conto, dos quais se distingue, grosso modo, pela sua maior extensão e complexidade. O tema do amor pode ser abordado no romance e é-o frequentes vezes, mas tal não é obrigatório nem determinante na sua designação e caracterização de género. Por outras palavras, há romances sem amor e amores que nunca foram narrados ou postos em romance.
Dito isto, o que aqui nos ocupa é uma narrativa interessantíssima de um pedaço da nossa vida portuguesa, nos anos de Quinhentos, na cosmopolita Lisboa desse tempo. A História como pano de fundo e as histórias reais e prováveis da política e da estratégia do estado, dos serviços secretos, da espionagem, do crime, entrelaçadas com cenas do quotidiano, da vida doméstica, dos amores, das traições, dos atos sublimes e torpes que marcam as existências. Um romance fantástico, que envolve o leitor, explica e sugere em doses certas, e deixa pena ao terminar!
O autor é historiador e investigador. Muito do que conta foi aprendido nos documentos da História com maiúscula. E há factos que confessa ter ficcionado como hipóteses para as quais procura certificação científica (*). Este romance é a sua primeira experiência como ficcionista, apesar disso não se sente qualquer academismo na sua escrita, que flui de forma muito agradável.
O Império dos Pardais – o “nosso Império” – merecia bem uma adaptação ao cinema ou a televisão, numa série histórica, pois tem conteúdo bastante para isso, destinados a consumo interno e a exportação (garanto-vos que esta minha ideia é anterior à expressão da do Ministro da Economia sobre os pastéis de Belém). Tivéssemos nós por cá uma televisão com a qualidade, a visão estratégica e os meios de uma BBC e não escaparia, com certeza. Com histórias bem menos interessantes ou espetaculares, americanos e ingleses enchem o mundo de imagens da sua História. A nós cabe, pelo menos, conhecer bem a nossa, não acham? E que melhor e mais agradável maneira que através da literatura?
Este é um convite a conhecerem ou relembrarem, numa agradável viagem, o tempo em que fomos pardais… uma sabedoria a, talvez, reaprender!


(Existe um exemplar na nossa biblioteca.)


(*) Segundo entrevista dada no programa “Câmara Clara”, da RTP2


Maria Manuel Carvalhais

2 comentários:

JPOC disse...

Andando pelo google, vim dar ao vosso blogue e aos comentários sobre o meu livro.
Deixe-me testemunhar a minha felicidade por saber que o meu trabalho agrada, faz pensar e ensina.
Vou editar no próximo mês o terceiro livro deste ciclo (continuado o ano passado com "O Fio do Tempo"), que se intitula "O Cavaleiro de Olivença". Espero que também vos agrade.

João Paulo Oliveira e Costa

BE ESMM disse...

Eu é que fico muito agradada com o comentário do autor de um livro de que tanto gostei e que escolhi para iniciar esta rubrica de "conversas sobre livros". Também já li «O Fio do Tempo» e fico agora na expectativa d'«O Cavaleiro de Olivença».
Em minha casa somos três a apreciar os seus livros e espero, neste espaço de divulgação, conseguir angariar mais alguns leitores entre os mais jovens.
Julgo saber que se especializou nesse período da História, sobretudo no reinado de D. Manuel I. Pois, então, sendo esse um período tão rico em acontecimentos, que ele lhe ofereça ainda muita "matéria histórica" em torno da qual ficcionar!

Saudações!
Maria Manuel